terça-feira, 21 de outubro de 2008



Trabalho de Campo: prática andante de fazer Geografia
Ana Maria Radaelli da SilvaProfessora do curso de Geografia da Universidade de Passo Fundo (RS), mestre em Metodologia Aplicada às Geociências pelo IG/Unicamp

O Trabalho de Campo: forma de aproximação da teoria com a prática

Não há contexto teórico se este não estiver em união dialética com o contexto concreto.
Paulo Freire

No discurso, no exemplo e no legado intelectual do notável pedagogo brasileiro, teóricos identificados com uma abordagem social e crítica de educação, que propugnam por um trabalho pedagógico centrado no concreto, no real e no verdadeiro, têm buscado referências às suas defesas. Entre os teóricos críticos permeia uma argumentação dirigida aos formadores de professores, bem como aos próprios professores, de que o propósito da escolarização está associado a uma visão transformadora, o que fundamenta a possibilidade de transformação social. Reconhece-se isso em McLaren (1997) quando discorre sobre a construção social do conhecimento, ressalvando a relação contextual presente num campo referencial particular, como um dado lugar, cujos significados/subjetividades particulares só são percebidos se vividos porque "não estamos diante do mundo social, vivemos dentro dele" (p. 202). Com isso, supera-se uma visão contemplativa que esteve presente, de certa forma, em práticas mais tradicionais do ensino da Geografia e não apenas da Geografia. Da mesma forma, Giroux (1997), ao vincular à união de teoria e prática a possibilidade de práticas emancipadoras, o faz ressalvando que tal relação é indissociável da "experiência concreta de ouvir e aprender com os oprimidos", baseando-se na definição de Freire para a categoria de intelectual, pela qual "todos os seres humanos atuam como intelectuais ao constantemente interpretar e dar significado a seu mundo e ao participar de uma concepção de mundo particular" (p.154). A compreensão do real, do presente, como ato de descortinar seu conteúdo, sua gênese, resulta da mediação entre teoria e prática, não da rendição daquela a esta porque, sustentado num preceito freireano, o autor destaca que a "teoria não dita a prática" (p.155), preservando a possibilidade de se originarem formas próprias, particulares de produção e práticas teóricas, no sentido verdadeiro de práxis.Kincheloe (1997) resgata Paulo Freire quando discorre sobre pesquisa-ação e pensamento democrático, especialmente da concepção de investigação como uma poderosa ferramenta de ensino. Toma o exemplo do pedagogo brasileiro, de como engaja seus alunos como "companheiros" nas atividades de pesquisa, de como os coloca frente às percepções de si mesmos e do seu entorno, de como os encoraja a pensar "sobre os próprios pensamentos", de tal forma que, para o primeiro,
todos se juntam na investigação, aprendendo a criticar, a ver mais claramente, a pensar num nível mais elevado, a reconhecer a forma como suas consciências são socialmente construídas. Quando os professores colocam o método de Freire para funcionar nas suas próprias salas de aula, eles ensinam aos alunos as técnicas de pesquisa que aprenderam. Professores são ensinados nas habilidades de trabalho de campo tais como observar, entrevistar, fotografar, filmar, gravar, tomar nota e coletar histórias de vida. Tais atividades fornecem um contexto oportuno para os professores se engajarem com os alunos numa meta-análise epistemológica - o coração e a alma do movimento para a pós-formalidade. (p.181)
. Há um esforço coletivo para efetivá-la, o que se vem fazendo em atenção ao que está estabelecido na Proposta de Reformulação Curricular, neste caso, particularmente o objetivo específico que visa: "Proporcionar aos alunos o contato com a realidade através da investigação (trabalho de campo), privilegiando a escala local como ponto de partida e forma de atingir escalas mais distantes e abrangentes e elaborar projetos, com o respectivo desenvolvimento de estudos e pesquisas, com a finalidade de conscientizar e capacitar para a adoção de um posicionamento crítico e de uma postura ética frente à realidade na qual está inserido". A concretização desse objetivo, como uma primeira experiência, levou em conta a questão da interdisciplinaridade, promovendo a integração entre as disciplinas de conteúdo geográfico com as demais disciplinas que trazem aporte à compreensão da sociedade e da natureza, seus modelos de desenvolvimento, a sustentabilidade sócio-ambiental e as novas tecnologias de representação e interpretação geográfica que constam dos três primeiros semestres do curso. Dessa forma, o Estágio Curricular II instituiu-se como um momento integrador do curso além de um núcleo estratégico fundamental para garantir que se efetive uma nova forma de profissionalização desde o início do curso, concretizando o aspecto prático das disciplinas que são oferecidas nos respectivos semestres. Foi, portanto, num percurso de aproximadamente 1.700 km, no chão do Rio Grande do Sul, observando os aspectos mais significativos dos quatro principais compartimentos geomofológicos - Planalto Meridional, Depressão Periférica, Planície Costeira e Escudo Cristalino -, que se promoveu a relação do Estágio Curricular com o conteúdo teórico. Ao desenvolvimento de atividades teórico-práticas de campo, seguiram-se as de gabinete e laboratoriais, tendo em vista a elaboração de um relatório técnico cujo conteúdo, certamente, é revelador do conhecimento gerado no contato com o espaço geográfico e a realidade social. Retirado do Site http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/geografia/geo03b.htm

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